Natural de Guaratinguetá, no interior de São Paulo, e trabalhando na
Nasa há quase três décadas, Ramon de Paula, de 59 anos, é um dos três
brasileiros envolvidos na missão da agência espacial americana que levou o
jipe-robô Curiosity a Marte nesta semana.
Vivendo nos Estados Unidos desde os 17 anos, o engenheiro é um dos
executivos nas missões de Marte no quartel-general da Nasa em Washington. Como
um dos chefes desses programas, tem entre suas principais atribuições resolver
problemas técnicos e burocráticos.
Ele comemorou o sucesso da missão Mars Science Laboratory quando o
jipe-robô Curiosity tocou o solo do "planeta vermelho" na última
segunda-feira. "Foi um alívio, um momento muito, muito emocional",
diz De Paula, em entrevista à BBC Brasil.
"Tivemos algumas questões nas últimas três semanas, mas não
poderíamos mais adiar a descida", acrescenta. "Foi uma sensação de
dever cumprido, de ter ultrapassado dificuldades e momentos de muita pressão.
Foram US$ 2,5 bilhões, a missão para Marte mais cara até hoje."
O brasileiro celebrou ao lado de mais de mil cientistas, engenheiros e
técnicos envolvidos na missão, e disse que o momento de alegria fez valer a
pena todo o esforço dos últimos anos. Além dele, mais dois brasileiros integram
a missão: Jaqueline Lyra e Nilton Rennó.
"O 'marco' histórico dessa missão só vai ser conhecido daqui a
cerca de dois anos, quando os dados científicos começarem a chegar",
afirma o engenheiro. "Mas hoje a chegada do Curiosity a Marte já
representa um passo tecnológico muito importante para a humanidade."
Para ele, que gerencia projetos que envolvem mais de 500 pessoas, o
"jeitinho brasileiro" foi decisivo em sua carreira.
"Ser brasileiro definitivamente me ajudou", afirma.
"Minha função é achar solução para todos os problemas relacionados às
missões, e tudo que aprendi no Brasil, aliado à nossa cultura foram fatores
decisivos."
"Meu mantra aqui é: sempre tem um jeito de resolver o problema. Nem
todas as culturas têm essa flexibilidade diante de desafios", acrescenta.
De Paula conta que precisa tomar decisões a todo momento. "São
avaliações de risco, aspectos políticos, técnicos, financeiros e científicos
das missões. Temos de responder ao Congresso americano e à Casa Branca, por
exemplo, pois são eles que decidem nosso orçamento."
Brasil
De
Paula nasceu em Guaratinguetá e mudou-se aos sete anos para Pirassununga,
também no interior de São Paulo. De lá foi para Washington, aos 17 anos, quando
o pai foi selecionado para integrar a Comissão da Aeronáutica Brasileira na
capital americana.
Dois
anos depois, a família retornou ao Brasil, mas ele ficou e, após terminar o
colegial, formou-se nos Estados Unidos. Em 1985, ingressou na agência espacial
americana.
Casado
desde 1974 e pai de dois filhos, só volta ao Brasil "para visitar",
mas mantém uma relação muito forte com sua terra natal, expressa até ao elogiar
o programa espacial brasileiro.
"É
muito importante o que o Brasil tem feito no setor espacial mundial",
avalia o engenheiro da Nasa. "Definitivamente o Brasil tem a capacidade de
avançar seu programa espacial. Afinal, nós brasileiros damos um jeitinho para
tudo."
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/08/120808_nasa_brasileiro_ramon_jp.shtml
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